Zero Impacto 10 Anos
Há 10 anos atrás, no dia 27 de abril de 2010, eu e o meu sócio Diogo Pohl estávamos registrando nossa empresa, a Zero Impacto, na junta comercial de Brasília – os dois com 26 anos de idade. Sabíamos que não iria ser nada fácil entretanto estávamos dispostos a enfrentar esse grande desafio”.
Criamos essa empresa para que nos possibilitasse o sustento material mas também nos desse satisfação de trabalhar com algo que acreditamos e que faria alguma diferença na sociedade. Nosso foco, trabalhar com a logística reversa dos resíduos eletroeletrônicos no Brasil para diminuir o impacto ambiental, recuperar a matéria prima secundária, promover a economia circular e a inclusão digital de comunidades menos favorecidas.
Tudo começou em 2008 quando conheci meu cunhado, que mora em Milão, que na época trabalhava em um consórcio que gerenciava o lixo eletrônico na Itália, pedi para ele uma reunião em alguma empresa recicladora. Em 2009 o Filippo agendou uma reunião com a maior empresa recicladora da Itália, a S.E.Val que hoje é nossa sócia. Quando cheguei no galpão da empresa parecia que estava em um filme futurista, garras controladas por computador com sensores para retirar equipamentos de um espaço de armazenamento e colocar em uma esteira para ser processado por diversos trituradores diferentes e separações automatizadas. Logo pensei “meu Deus quero levar isso para o Brasil!”
De lá para cá passamos por diversos desafios, criamos a primeira empresa de reciclagem de lixo eletrônico de Brasília e o mercado formal praticamente não existia – o mercado era dominado (e ainda é em grande parte) pelo mercado informal. Iniciamos nosso trabalho criando os primeiros pontos de coleta gratuito de lixo eletrônico em Brasília, participando de eventos sobre meio ambiente e culturais, ministrando palestras em escolas e faculdades, participando de debates sobre o tema e fazendo matérias para jornais impressos e na Tv. Desenvolvemos todo um trabalho de educação ambiental para poder tentar transformar o modo de consumo e descarte dos equipamentos eletroeletrônicos no final de sua vida útil.
Conseguimos ao longo desse tempo estabelecer ótimas parcerias em diversas áreas e montamos um time de sócios que tenho orgulho de poder compartilhar parte do tempo com eles discutindo estratégias e cenários para nossa querida ZI (como chamamos nossa empresa). Graças a esses sócios que vieram para somar conhecimento e capital, conseguimos chegar até aqui. São eles: o Diogo Pohl, a S.E.Val, Gabriel Soares, Francisco Frondizi, Karina Boner, Cesár Alcacio e o nosso camisa 10, Gustavo Bertolino que desde 2013 pulou para dentro da operação dando outra cara e ritmo para a empresa.
Ser empresário no Brasil é uma verdadeira aventura, ainda mais em um negócio tão novo quanto esse, que não existe uma receita pronta e que está começando a engatinhar agora em 2020. Para se ter uma ideia, a lei dos resíduos sólidos (Lei :12305/2010) foi assinada em agosto de 2010 e só recentemente foi assinado o acordo setorial que prevê as responsabilidades de cada setor e suas implicações.
Amigo(a), haja resiliência, são 10 anos batalhando para ver as coisas acontecerem nesse setor, são 10 anos competindo com quem não paga imposto, são 10 anos competindo com empresas financiadas com recurso público (do qual nunca recebemos nem 1 centavo), são 10 anos chegando a pagar mais de 20% de imposto sobre o resíduo que já foi taxado inúmeras vezes. Enfim, são inúmeras lutas que não cabem nesse texto.
Por fim, chegamos hoje muito mais maduros e conscientes da nossa missão e função dentro dessa cadeia. Tivemos como referência uma empresa de ponta na Itália, mas percebemos que teríamos que reinventar o nosso modo de fazer esse trabalho no Brasil. Quando começamos tínhamos um sonho idealizado que foi totalmente modificado a partir da nossa experiência prática, essa modificação foi nosso maior aprendizado, ainda estamos aprendendo, quanto mais trabalhamos nesse setor mais percebemos que temos muito para aprender.
Esse aprendizado é nosso grande tesouro e vamos carregá-lo pelo resto das nossa vidas. Esperamos poder transmitir o máximo que aprendemos ao longo desse tempo para as próximas gerações. Vida longa a Zero Impacto e grato a todos que contribuem com esse sonho!